domingo, 1 de abril de 2012

Ensino Médio Politécnico


Estou participando do Curso de Formação no NTE, SIEMP, sobre o E.M. Politécnico, e uma das proposta é aplicar um questionário junto aos novos alunos do 1º, com o objetivo de traçar um perfil desses educandos. Aí lembrei desse crônica do escritor brasileiro Affonso Romano de Sant'Anna.









Porta de Colégio

Affonso Romano de Sant’Anna

Passando pela porta de um colégio, me veio uma sensação nítida de que aquilo era a porta da própria vida. Banal, direis. Mas a sensação era tocante. Por isto, parei, como se precisasse ver melhor o que via e previa.
Primeiro há uma diferença de clima entre aquele bando de adolescentes espalhados pela calçada, sentados sobre carros, em torno de carrocinhas de doces e refrigerantes, e aqueles que transitam pela rua. Não é só o uniforme. Não é só a idade. É toda uma atmosfera, como se estivessem ainda dentro de uma redoma ou aquário, numa bolha, resguardados do mundo. Talvez não estejam. Vários já sofreram a pancada da separação dos pais. Aprenderam que a vida é também um exercício de separação. Um ou outro já transou droga, e com isto deve ter se sentido (equivocadamente) muito adulto. Mas há uma sensação de pureza angelical misturada com palpitação sexual, que se exibe nos gestos sedutores dos adolescentes. Ouvem-se gritos e risos cruzando a rua. Aqui e ali um casal de colegiais, abraçados, completamente dedicados ao beijo. Beijar em público: um dos ritos de quem assume o corpo e a idade. Treino para beijar o namorado na frente dos pais e da vida, como que diz: também tenho desejos, veja como sei deslizar carícias.
Onde estarão esses meninos e meninas dentro de dez ou vinte anos?


Aquele ali, moreno, de cabelos longos corridos, que parece gostar de esportes, vai se interessar pela informática ou economia; aquela de cabelos loiros e crespos vai ser dona de butique; aquela morena de cabelos lisos quer ser médica; a gorduchinha vai acabar casando com uma gerente de multinacional; aquela esguia, meio bailarina, achará um diplomata. Algumas estudarão Letras, se casarão, largarão tudo e passarão parte do dia levando filhos à praia e praça e pegando-os de novo à tardinha no colégio. Sim, aquela quer ser professora de ginástica. Mas nem todos têm certeza sobre o que serão. Na hora do vestibular resolvem. Têm tempo. É isso. Têm tempo. Estão na porta da vida e podem brincar.
Aquela menina morena magrinha, com aparelho nos dentes, ainda vai engordar e ouvir muito elogio às suas pernas. Aquela de rabo-de-cavalo, dentro de dez anos se apaixonará por um homem casado. Não saberá exatamente como tudo começou. De repente, percebeu que o estava esperando no lugar onde passava na praia. E o dia em que foi com ele ao motel pela primeira vez ficará vivo na memória.

É desagradável, mas aquele ali dará um desfalque na empresa em que será gerente. O outro irá fazer doutorado no exterior, se casará com estrangeira, descasará, deixará lá um filho – remorso constante. Às vezes lhe mandará passagens para passar o Natal com a família brasileira.
A turma já perdeu um colega num desastre de carro. É terrível, mas provavelmente um outro ficará pelas rodovias. Aquele que vai tocar rock vários anos até arranjar um emprego em repartição pública. O homossexualismo despontará mais tarde naquele outro, espantosamente, logo nele que é já um Don Juan. Tão desinibido aquele, acabará líder comunitário e talvez político. Daqui a dez anos os outros dirão: ele sempre teve jeito, não lembra aquela mania de reunião e diretório? Aquelas duas ali se escolherão madrinhas de seus filhos e morarão no mesmo bairro, uma casada com engenheiro da Petrobrás e outra com um físico nuclear. Um dia, uma dirá à outra no telefone: tenho uma coisa para lhe contar: arranjei um amante. Aconteceu. Assim, de repente. E o mais curioso é que continuo a gostar do meu marido.
Se fosse haver alguma ditadura no futuro, aquele ali seria guerrilheiro, mas esta hipótese deve ser descartada.
Quem estará naquele avião acidentado? Quem construirá uma linda mansão e um dia convidará a todos da turma para uma grande festa rememorativa? Ah, o primeiro aborto! Aquele ali descobrirá os textos de Clarice Lispector e isto será uma iluminação para toda a vida. Quantos aparecerão na primeira página do jornal? Qual será o tranquilo comerciante e quem representará o país na ONU?

Estou olhando aquele bando de adolescentes com evidente ternura. Pudesse passava a mão nos seus cabelos e contava-lhes as últimas estórias da carochinha antes que o lobo feroz assaltasse na esquina. Pudesse lhes diria daqui: aproveitem enquanto estão no aquário e na redoma, enquanto estão na porta da vida e do colégio. O destino também passa por aí. E a gente pode às vezes modificá-lo

domingo, 11 de março de 2012

UM DIA PARA POESIA!

Na próxima Quarta-feira, 14 de Março é considerado o Dia da Poesia. Desde sempre, como professora incluo a poesia em minhas práticas pedagógicas, pois sou uma apaixonada pela literatura e a poesia considero a arte mais elevada entre essa arte da palavra. Fazer poesia é de uma delicadeza tal que exige de nós a elegância da palavra. Ser elegante, delicado, solícito através da palavra é ser elevado a um patamar além de mortal, pois de nossas palavras todos lembrarão. É encontrar a imortalidade, mas não a imortalidade das academias cheirando a mofo, mas a imortalidade daqueles que mesmo sem nunca ter escrito uma só palavra foram poetas, pois sentiram a terra, as coisas simples ,os cheiros e as cores da vida com respeito e atrevimento poético. “Um exemplo desse tipo de poeta é Meu Pai, homem de poucas letras", expressão que ele mesmo usa para explicar o seu pouco tempo de escola; apenas seis meses. Hoje com 80 anos. Foi através de suas palavras que comecei a brincar de poesia, pois além de um bom contador de história adorava recitar quadrinhas de amor, explicando que essas quadras eram usadas em matineis como sinal de conquista amorosa, em sua juventude. Meu Pai me falando dessas coisas da vida me ensinava todo o amor que precisava aprender para amar a vida, as coisas, os bichos e os homens. Havia uma brincadeira que eu gostava muito que era brincar com palavras parecidas, estranhas, engraçadas. Meu Pai nos provocava, dizendo como ia ser a brincadeira e, nós ( eu e meus irmãos) devíamos encontrar o máximo de palavras. “Raimunda mora na Canhada Funda e anda corcunda. Atirei o limão verde por cima da estrebaria e deu no papo da tia Maria".Talvez em função dessa realidade vivenciada que eu considere tão natural trabalhar a poesia com crianças, pois me vejo criança e sigo a intuição na hora de escolher qual texto poético para desencadear o processo poético e descortinar o espírito latente em toda criança. Mas em caso de dúvida gosto de trabalhar o poema de Elias José “Brincado de Poesia”


como se brinca com bola,

papagaio, pião.

Só que bola, papagaio, pião

de tanto brincar se gastam.

As palavras não:

Quanto mais se brinca com elas,

mais novas ficam.

Como a água do rio

que é água sempre nova.

Como cada dia que é sempre um novo dia.

Vamos brincar de poesia?

quinta-feira, 8 de março de 2012

Um Dia Para Nós, Mulheres!

Por que de um Dia Especial no Calendário Para Nós, Mulheres?
Primeiro é uma data simbólica, pois faz referência ao triste fato de violência contra a Mulher.

História do 8 de março

No Dia 8 de março de 1857, operárias de uma fábrica de tecidos, situada na cidade norte americana de Nova Iorque, fizeram uma grande greve. Ocuparam a fábrica e começaram a reivindicar melhores condições de trabalho, tais como, redução na carga diária de trabalho para dez horas (as fábricas exigiam 16 horas de trabalho diário), equiparação de salários com os homens (as mulheres chegavam a receber até um terço do salário de um homem, para executar o mesmo tipo de trabalho) e tratamento digno dentro do ambiente de trabalho.

A manifestação foi reprimida com total violência. As mulheres foram trancadas dentro da fábrica, que foi incendiada. Aproximadamente 130 tecelãs morreram carbonizadas, num ato totalmente desumano.

Porém, somente no ano de 1910, durante uma conferência na Dinamarca, ficou decidido que o 8 de março passaria a ser o "Dia Internacional da Mulher", em homenagem as mulheres que morreram na fábrica em 1857. Mas somente no ano de 1975, através de um decreto, a data foi oficializada pela ONU (Organização das Nações Unidas.

Esse fato responde a pergunta inicial e representa no imaginário coletivo uma reflexão e orientação de uma prática educativa justa e humana, sem discriminação de nenhuma natureza.

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

A Reestruturação do Ensino Médio

Na década de 70 e 80, a Unijuí ( Universidade do Noroeste de Ijuí), desencadeo um projeto interdisciplinar, baseado numa metodologia dialética, a partir de estudo da realidade do educando. a concretude da prática docente era alicerçada em temas geradores organizados no jogo da vida - que considerava desde o espaço físico até as relações interpessoal e intrapessoal da vida do educando.

Muitos educadores fizeram parte desse processo;tive o privilegio de ter participando desse momento como aluna da Universidade e também como professora na região noroeste - município de Coronel Bicaco,um dos parceiros dessa proposta. E foi a partir daí que sempre pautei minha prática docente a partir da construção de saberes e também do levantamento de hipóteses.
Porém, quero afirmara que não basta somente a boa vontade do professor para que a reestruturação dê certo, embora a boa vontade seja fundamental! A concepção de educação, a necessidade de aprender, isto é, considerar a interlocução dos saberes. A clareza teórica-metodológica é fundamental para que o professor possa contextualizar os seus saberes, os saberes dos seus alunos.
A interdisciplinaridade deve superar a mera prática de justaposição de disciplinas em enclausuradas em si mesmas. deve acontecer de maneira em que cada uma se implique com as demais regiões do saber (Marques, 1993). Deve representar uma unidade que supere a fragmentação atual e passe a ser uma prática orientada por linhas temáticas e conceituais. Também deve ser compartilhada a responsabilidade de desenvolver habilidades em nossos alunos, pois hoje é frequente vermos alunos aprovados em disciplinas como geografia, história, filosofia e apresentarem deficit de leitura. Uma vez que a leitura do mundo precede a leitura das palavras. Entender que vivemos num mundo onde a informação encontra-se em mais de um suporte, portanto não mais só papel da escola "passar" conteúdos/informações é, sim o de refletir sobre os efeitos da mídia na cultural local, regional e mundo.
Desenvolver uma prática de ensino alicerçada no mundo do trabalho e também da cultura significa compreender que cada povo tem a sua própria cultura e que a mesma tem ligação com possibilidade concreta dos sujeitos possuírem uma identidade, no sentido de pertencimento e também significa que educamos para que cada individuo possa ter, em suas mãos, a definição dos caminhos de sua vida, percebendo os limites que lhe são impostos pela homogenização da grande mídia e pela ação concreta das grandes empresas. É interessante por dois motivos. Primeiro porque mesmo num mundo globalizado, as ideias universais só se concretiza, nos lugares e não no global, geral. Segundo , porque assim, podemos perceber que nossa ação pode ser efetiva e eficaz, dependendo do jogo de forças em que se insere, e que os homens podem não ser apenas cobaias ou partes de uma estrutura na qual não têm o direito de pensar e de tomar atitudes que lhes pareçam adequadas. Ao se reconhecer o lugar como parte de nossa vida, como um dado que nos permite criar uma identidade; a ideia de pertencimento, será possível agir para o grupo, e não apenas para servir a interesses externos.

( O texto foi desenvolvido com base num texto da professora Helena Callai - UNIJUÍ)

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Minha construção humana


Fui Sabendo de Mim

Fui sabendo de mim
por aquilo que perdia

pedaços que saíram de mim
com o mistério de serem poucos
e valerem só quando os perdia

fui ficando
por umbrais
aquém do passo
que nunca ousei

eu vi
a árvore morta
e soube

que mentia. Mia Couto também faz parte de minhas leituras de férias, Gosto desse autor.Conheci esse grande autor moçambicano na Jornada Literária de 2007, quando o mesmo foi premiado com o título "Outro pé da sereia". Nesse romance Mia Couto escreve a história do burriqueiro Madzero e sua mulher Mwadia Mulanga que encontro um pé de uma estátua que eles pensa se tratar de uma seria e, na verdade, é o pé de uma imagem de Nossa Senhora do século XVI. A partir de se dois momentos históricos se cruzam, atualmente século XXI.

Além de prosa, descobri a poesia desse grande escritor que também escreve para o teatro. Vou atrás do gênero dramático, pois é a minha empolgação literária atualmente.